Facilitação do Planejamento Estratégico 2023 da Coalizão O Clima é de Mudança
A Decah apoia a materialização de intenções e vocações de comunidades para geração de impacto sistêmico e socioambiental. Acreditamos que a inteligência coletiva é imbatível e que devemos compartilhar metodologias e facilitar experiências e jornadas de inovação aberta para todos e todas que estão no movimento de contribuição para transição de mundos complexos e colaborativos.
CONTEXTO
Em março deste ano, facilitamos a co-criação de cenários com a Coalizão O Clima é de Mudança, buscando convergências de visão de mundo, futuro e objetivos para um projeto que é hub de muitas instituições periféricas, agentes de populações marginalizadas pela sociedade e pelas pautas climáticas.
HISTÓRICO
Marcele Oliveira é uma das articuladoras que construiu a Coalizão O Clima é de Mudança e uma parceira de longa data da Decah. Marcele foi estagiária na Goma, uma associação de empreendedorismo em rede com foco em inovação e impacto social, economia criativa e design sustentável na zona portuária do Rio de Janeiro. Marcele entrou para trabalhar no no Colaboramérica e terminou sendo mestre de cerimônias dele! Desde sempre ela compartilhou aptidão para o cooperativismo e processos de articulação e facilitação em rede.
Marcele encontrou espaço de luta nas pautas socioambientais e, nesta jornada, a Decah compartilhou conhecimentos e metodologias para aprimorar suas competências colaborativas capazes de cuidar dos projetos coletivos que guia e participa. Trocamos ideias, informações e aprendizados nesta caminhada conjunta. Marcele participou do planejamento estratégico do gabinete da Tabata Amaral, fez planejamento estratégico do Americas Open Summit e a convenção de Quem Disse Berenice e Grupo do O Boticário
Como articuladora de comunidades e de práticas tanto institucionais quanto de profissionais do desenvolvimento e estrategistas de impacto, a Decah está à serviço de projetos onde a inteligência colaborativa é o foco. Também por isso é um prazer participar como parceiros desta facilitação com a Coalizão O Clima é de Mudança, reforçando a metodologia de construção de bússolas estratégicas para um movimento mais associativo e participativo.
A Coalizão O Clima é de Mudança
Marcele foi atravessada pelo caso de racismo ambiental do Parque Realengo Verde e co-criou com outros agentes a Agenda Realengo 2030, uma publicação de propostas de políticas públicas voltadas pro território de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. Assim, se conectou com outras pessoas da cidade com trabalhos semelhantes, sobre políticas públicas territorializadas, ou com debates muito urgentes para vida das populações periféricas. Abordar a pauta climática e do meio ambiente é uma forma de transversalizar muitos assuntos como habitação, mobilidade urbana, direito à cidade e justiça social. Assim, a Agenda Realengo 2030 se transformou em uma plataforma de advocacy costurando relações com outros grandes coletivos, como a campanha Amazônia de Pé do Meu Rio.
E foi então que surgiu a Coalizão O Clima é de Mudança formada por algumas organizações focadas em conhecimento, dados e processos em rede para periferias:
- Data Labe, um laboratório que promove a democratização do conhecimento por meio da geração, análise e divulgação de dados com foco em raça, gênero e território a partir do Complexo da Maré e atua no mapeamento, incidência e participação cidadã sobre saneamento básico através do Cocô Zap.
- LabJaca, laboratório de dados e narrativas na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro.
- Visão Coop, um laboratório cívico, que organiza redes de cooperação e trabalha tecnologias sociais, digitais e verdes na Baixada do Rio de Janeiro.
Tudo isso com o apoio da:
- Plataforma Cipó, um instituto de pesquisa independente liderado por mulheres e dedicado às questões de governança, relações internacionais e clima a partir de perspectivas latino americanas.
Coletivos que perceberam que suas estratégias e diagnósticos em relação ao clima, segurança pública e falta de visibilidade não são apenas grandes ideias, mas potentes tecnologias para serem aplicadas e replicadas em outros tantos territórios. Como, por exemplo, o Manual para combater Enchentes da Visão Coop que pode (e deve) ser utilizado em outros territórios. Muitos ainda não acessados e até desconhecidos pela Coalizão. A partilha aberta de tecnologias é uma ação que revoluciona o modus operandi do sistema competitivo atual, porque expande acesso e oportunidades.
A Coalizão busca dar visibilidade também à eficácia dos projetos nas periferias, trazendo à luz como foi feito e quais foram os resultados. Destacando a importância da ciência ser valorizada como ciência nas áreas periféricas das metrópoles e atribuir verdade e credibilidade às situações que acontecem nesses espaços urbanos. Visibilizar as metodologias promove possibilidades de financiamento, especialmente nos planos das prefeituras.
Em 2022, a Goma contribuiu com a ida da Marcele à COP27, justamente porque acredita que a ocupação em espaços de poder, de tomada de decisão e de informações relacionadas (não só) ao clima devem ser garantidas para todos e todas. Foi na COP27, no Egito, que a Coalizão teve sua primeira grande ação, reforçando a importância de pessoas que são e serão protagonistas do futuro do trabalho, da cooperação e da evidência de territórios marginalizados. Antes de ir, a Coalizão organizou um evento potente no Circo Voador com oficinas formativas dos coletivos e viabilizaram transporte e alimentação para que as pessoas participassem das discussões, a fim de coletar dados e informações de quais inquietações precisamos priorizar nos encontros durante COP, garantindo que a expansão do evento para o grupo como um todo. O objetivo é sempre atuar do local ao global.
Facilitação do Planejamento Estratégico 2023 da Coalizão O Clima é de Mudança
Em 2023, a Coalizão começa a realizar a estruturação do projeto enquanto instituição de instituições. E foi nesse momento que fomos convidados pela Marcele para desenhar o processo participativo para entender como materializar o projeto. Reunimos 20 jovens da periferia do Rio de Janeiro, cada um representando a sua organização que atua diretamente com mitigação e mudanças climáticas.
Com tantas potências, desafios e visões particulares, fez parte do processo honrar a sabedoria coletiva e abrir espaço para as necessidades de cada um. Entender que não estávamos cuidando de uma empresa e seus colaboradores, mas de um movimento ativista, com pautas complexas, diversas e urgentes. Um movimento que busca desenvolver ações concretas para combater um sistema que combate a periferia. Fundamental entender realidades neste contexto como, por exemplo, o desafio de não estar presente para atender a um telefonema em dias de chuva, porque situações de risco como desabamentos e alagamentos se colocam mais urgentes. Ou uma pausa por conta de uma situação de violência local. Eventos que não incluímos no plano de trabalho, mas que são parte do atravessamento às vezes diário de quem trabalha e vive na periferia.
Juntos e juntas, co-criamos processos, responsáveis, como e a quem recorrer em situações de emergência.
“Facilitar um processo de juventude que fala de mudanças climáticas, mas também outros atravessamentos não é só facilitar a criação de um negócio, mas um crescimento pessoal e coletivo dessas pessoas.” — Marcele.
Há tempos que as metodologias participativas da Decah foram utilizadas pela Marcele, mesmo sem nossa presença nos encontros e esse é um dos nossos propósitos: pulverizar possibilidades de facilitar e materializar ideias coletivas.
“As pessoas estão familiarizadas com a ideia de que o que a gente fala sem escrever se perde. Importante ter momentos de escuta. Importante ter acordos. Fazer agenda. Métodos de participação e conforto de todo mundo é algo precioso do processo que a Decah conduz. Coalizão é criada acreditando neste tipo de influência positiva na forma de trabalhar.” — Marcele
Justiça climática como base da tomada de decisão dos futuros negócios
Alguns são os planos de ação para trazer a justiça climática para o centro de tomada de decisão dos negócios:
- A ação climática é profunda e desafiadora — É urgente substituir as formas convencionais de se pensar um negócio: trabalhar não é uma atividade linear e precisa abarcar as peculiaridades de cada pessoa que participa desta atividade. Trabalhar é também uma jornada individual.
- As pessoas precisam estar no centro da tomada de decisão — Ativar recursos de escuta ativa e presente é um passo importante para priorizar pessoas na tomada de decisão de empresas que querem desenvolver responsabilidade socioambiental e justiça climática.
- O trabalho colaborativo é a única saída (ou o único recomeço) — A solução de uma crise nunca está na solitude ou no trabalho de uma só pessoa. Inteligências coletivas precisam ser estimuladas, aumentando assim possibilidades, oportunidades e soluções.
- A mudança de mentalidade é urgente — Os negócios podem se afastar de abordagens que perpetuam ciclos de danos e injustiças socioambientais.
O B Lab EUA e Canadá desenvolveu e compartilhou um Toolkit com ferramentas e reflexões sobre como empresas podem aprender e praticar justiça climática. A Justiça Climática convoca colocar as pessoas, realidades e equidade no centro da ação dos negócios com foco na preservação do socioambiental.
Com base neste material, destacamos alguns dos termos mais relevantes e que conversam amplamente com os processos colaborativos que co-criamos com a Coalizão O Clima é de Mudança.
1. Justiça Climática: O tratamento justo e a participação significativa de todas as pessoas, independentemente de raça, cor, origem nacional ou renda, em relação ao desenvolvimento, implementação e aplicação das leis, regulamentos e políticas ambientais.
2. Racismo Ambiental: O impacto desproporcional dos perigos ambientais sobre as comunidades de cor e as comunidades de baixa renda.
3. Transição Justa: Uma estrutura para uma transição justa para uma economia ecologicamente sustentável, equitativa e justa para todos os seus membros.
Esses termos são importantes para entender qual o nosso papel diante da crise climática e como vamos cooperar diante os desafios enfrentados pelas comunidades mais impactadas pelas consequências das mudanças climáticas.