Um título, um badge ou uma certificação nunca será mais importante, que a própria jornada que eles representam.
De onde viemos
Esse é um artigo de celebração de uma belíssima jornada formativa. Um processo coletivo e individual de desenvolvimento contínuo que nos convidou a buscar e praticar uma liderança facilitadora o tempo todo. No artigo anterior (O caminho se faz ao caminhar…), contamos sobre como foi estruturado o currículo criativo dessa jornada formativa. Hoje vamos compartilhar os aprendizados sobre a materialização dessa caminhada.
Na Decah, temos nos especializado no que chamamos de Design com Ecossistema no Centro do Processo (Ecosystem Centered Design). Ao longo da jornada formativa, buscamos viver com maior coerência possível com as provocações que fazemos aos ecossistemas de impacto que estamos inseridos, e em acolhermos as necessidades das diversas partes e trajetórias envolvidas no processo.
Um indicador importante dessa prática foi colocar o impacto positivo e cuidado como principais caminhos a serem seguidos. Isso quer dizer que, para nós, desenvolver habilidades colaborativas é mais importante — e necessário — do que formar pessoas para reproduzirem discursos pasteurizados e surfarem na onda ESG.
A seguir, apresentamos os principais valores, habilidades, ferramentas e aprendizados que tivemos nesse processo.
Atributos Da Jornada
Nesta jornada de formação prática e teórica sobre o Movimento B contamos com 12 convidados e mais de 40 horas de conteúdo síncrono e assíncrono. Utilizamos o Strateegia — uma plataforma desenhada para a criação, desenvolvimento e adaptação de estratégias digitais — para compartilhar conteúdos e possibilitar a interação da rede de forma contínua, assíncrona e organizada.
Compreendemos a Avaliação de Impacto B (ou, como carinhosamente chamamos, BIA) como uma diretriz de aprimoramento de práticas socioambientais e nos aprofundamos em cada um dos 5 Pilares temáticos do BIA.
Nosso foco foi a condução de uma Jornada de Inovação Aberta para instrumentalização e construção de conhecimento comum ao grupo através dos conteúdos estratégicos do Universo B.
Cuidado Como Driver De Inovação
Ao longo do processo, a Ética do Cuidado foi invocada sistematicamente como grande catalisadora do processo, seja para os Multiplicadores em formação, para os clientes reais que foram atendidos ao longo da jornada e também com a equipe que anfitriou o processo. Evocar o cuidado significa estarmos atentos para as três dimensões que a compõem e que são fundamentais para construir senso de comunidade: 1) saber cuidar; 2) saber fazer transações ganha-ganha; e, 3) saber conversar.
“O cuidado tem uma dupla função: prevenir danos futuros, reparar e regenerar os danos passados. Esse é o valor do cuidado.” (Bernardo Toro, 2011)
A seguir, compartilhamos alguns dos insights da jornada seguindo essa inspiração.
- Saber cuidar: Todas as necessidades das partes interessadas importam em um processo de inovação aberta
Muito se fala sobre o usuário no centro do processo, mas como adotá-lo se as partes interessadas têm afinidades e interesses comuns, e também necessidades específicas distintas?
A primeira dimensão de integração se deu logo na largada, a partir da cocriação da Jornada Formativa reunindo toda a equipe do Sistema B Brasil e facilitada pela Decah utilizando a metodologia da Kaospilot. Assim, conseguimos materializar a intenção do Sistema B Brasil em dar os primeiros passos na busca por uma de suas maiores aspirações, se tornar um ecossistema colaborativo até 2023. Nesse sentido, o papel do/a Multiplicador/a B é essencial, levando o Sistema B Brasil a fortalecer essa comunidade temática já em 2021.
Nós acreditamos que o “como” fazemos é tão importante quanto “o que” fazemos. Por isso, o processo inicial de inscrição no Programa foi feito de forma a integrar recursos, necessidades e interesses.
Ao invés de selecionar os participantes, pedimos que enviassem um vídeo contando como o chamado para fazer parte do Programa de Multiplicadores B 2021 ressoava nelas, considerando o momento de vida agora e futuro. Além disso, demos opção para as interessadas demonstrarem suas necessidades de apoio, indicando se precisavam de uma bolsa de 50% ou 100%; e para aqueles que poderiam compartilhar recursos, a opção de pagar a sua inscrição e de mais uma ou duas pessoas, além de poder fazer uma doação de valor a ser escolhido pelo doador/a. Desta maneira, chegamos na composição da nossa turma: 98 inscritos, sendo 73 pagantes inteira, 6 bolsas doadas + R$1500 reais, com 10 bolsistas 100% e 15 bolsistas 50%.
A ética do cuidado também reverberou na co-curadoria dos temas abordados em cada etapa da Jornada, nos conteúdos e suas formas de apresentação, no compartilhamento de cases e boas práticas, nas frentes de atuação e ecossistemas de impacto. Tudo para enriquecer a grade curricular da jornada, alinhando habilidades, competências, comportamentos desejados e curvas de aprendizados.
Um grande aprendizado de cuidado foi a sincronização entre o tempo Chronos (tempo da Jornada Formativa, etapas do processo e horário das aulas) com o tempo Kairós (tempo da curva de aprendizado, da criação de pertencimento, da compreensão do vocabulário, etc).
Começamos em uma alta velocidade de conteúdo e interações, e ao longo fomos transitando para mais tempo de trocas e construção coletiva de aprendizados. As pausas e intervalos durante os encontros e ao longo da Jornada Formativa foram fundamentais nessa sincronização e acomodação de aprendizados.
2. Saber fazer transações ganha-ganha: parcerias feitas para maior geração de valor para o processo
Não há como falar de ganha-ganha sem agradecer às nossas queridas empresas e líderes B que participaram da Jornada Formativa. Sem eles e elas, não teríamos acesso à uma enormidade de inspirações, boas práticas e teses de mudança que são colocadas em prática dentro de suas realidades empresariais.
Vimos empresas ganhadoras do reconhecimento Best For The World 2021 se apresentarem com muita humildade, demonstrando que o que motiva é exatamente a imperfeição das histórias, as dúvidas, aprendizados inesperados, os fracassos e desafios de tentar empreender impacto no país e, mesmo com tudo isso, ainda seguirem em frente.
Nosso muito obrigado por contribuírem se colocando disponíveis à troca franca e vulnerável com os novos Multiplicadores.
Pilar Meio Ambiente: Amon Costa (Zebu/Mancha Orgânica) e Bruno Temer (Ambedu)
Pilar Governança: Thiago Gomes (Guayaki) e Alda Marina Campos (Pares)
Pilar Trabalhadores: Gustavo Glasser (Carambola) + Elisa Cardamone (Blockforce)
Pilar Comunidade: Andrea Carvalho (Papel Semente) + Victor Hugo Ramos e Carol Ramos (IMPT!)
Pilar Clientes: Pedro Tufic (Welight) + Claudia Kubrusly (Editora Voo) + Mariana Belomo (Magik JC)
SISTEMA B — Tomás de Lara, Pedro Telles, Francine Lemos e Marcel Fukayama
ICE — Celia Cruz
Vox Capital — Daniel Izzo
Não podemos deixar de celebrar uma grande evolução na parceria entre a Decah e o Sistema B. A liderança da Francine Lemos materializa, mais uma vez em sua gestão, coragem ao dar continuidade aos caminhos apontados pelo Diagnóstico Participativo 2020 (conduzido pela Decah), e por incentivar a reestruturação curricular e a visibilização e ampliação da conexão com o tecido conjuntivo do ecossistema (os/as Multiplicadores B).
Apreciar o envolvimento de cada membro da equipe do Sistema B — dos mais antigos aos mais novos — que se dedicaram a somar no currículo formativo a abrir suas áreas para criarem novas pontes de suporte e sinergia para a construção de uma rede cada vez mais conectada, articulada e autônoma.
A partir de agora, a qualidade do impacto que suas áreas podem gerar depende diretamente da capacidade de se organizarem e trabalharem em rede. Saibam que vocês, a partir de agora, têm muitos ao seu lado e com disposição para ajudar.
E um agradecimento mais que especial à equipe: Marcos Salles, Luísa Diebold, Amon Costa e Débora Rocha, que entregaram muito mais do que foi alinhado.
A cada hora dedicada, a cada problematização que provocava o aumento de valor entregue aos participantes, fluímos como um quinteto de Jazz. Obrigado pela busca constante por Leveza, Coerência e Comprometimento.
Celebramos nossa parceria com o Strateegia, que através da tecnologia da plataforma possibilitou um melhor compartilhamento de informações da jornada, mapeamento de vocações e intenções dos participantes ao longo do processo e ajudou a construir a biblioteca de boas práticas relacionadas aos Eixos Temáticos do BIA e caminhos priorizados nos atendimentos dos clientes.
Em breve, anunciaremos mais detalhes da evolução dessa parceria e como ela reforça a caminhada de digitalização da proposta de valor da Decah e a construção de Artefatos Figitais* como suporte das Jornadas de Impacto (vale dar uma olhada no artigo do André Neves, co idealizador do Strateegia e sócio da TDS Company sobre o assunto).
*Figitais: físicos+digitais
3. Laboratório de Impacto como plataforma de desenvolvimento de Liderança Facilitadora (Saber conversar)
A Jornada Formativa foi desenhada de forma que teoria e prática fossem experimentadas de várias formas. Nas 4 primeiras etapas, trabalhamos conteúdos relacionados à impacto, desde inspirações, ecossistemas e redes, estratégias, ferramentas até habilidades de liderança e facilitação.
Para a construção da etapa 5 — Laboratório de Impacto — consideramos os diferentes contextos associados aos seis perfis de vocações profissionais dos Multiplicadores e dos 15 clientes atendidos por eles (que demonstraram ter demandas e desafios distintos).
Montamos os times s para atender “clientes reais” a partir de critérios multidisciplinares, de forma que a ignição de diferentes perspectivas, repertórios, localidades e inteligências fossem incentivadas para serem aportadas aos negócios sociais atendidos. Essa foi a primeira experiência como estrategista de impacto a partir de uma experiência real (não fictícia).
Por meio de muitas atividades colaborativas e com o auxílio de uma exploração conduzida por 9 frameworks integrantes das JOIAS — Jornadas de Impacto e Aprimoramento Socioambiental, foram problematizadas mais de 100 frentes estratégicas associadas a 20 diferentes temas socioambientais, gerando conteúdos diversos e incentivando a cocriação de projetos de melhoria de cultura organizacional e estratégias de impacto.
Onde teoria e prática não estão separados, o processo de levantamento dos empreendimentos elegíveis para serem atendidos no LAB foi feito de forma colaborativa. Foi guiado por um exercício de democracia participativa que se apresentou como um divisor de águas na construção do senso de pertencimento do grupo, com um compromisso de não deixar nenhum possível cliente para trás.
A escolha das iniciativas a serem atendidas foi memorável, pois vivenciamos a magia de um processo emergente de tomada de decisão, quando a competição dá lugar a colaboração e todos saem satisfeitos.
Desde o início do LAB, incentivamos os participantes a praticarem o cuidado consigo, com seu time e com a empresa atendida, incentivando a generosidade e a reciprocidade assíncrona na plataforma Strateegia.
O nivelamento de entendimentos através da instrumentalização/capacitação dos participantes para a utilização dos frameworks da Jornada aconteceu por meio de ferramentas distintas, como: (i) os Manuais de Replicabilidade Metodológica; (ii) o Racional de Estudos da arquitetura BIA e o (iii) “Decahflix” — série de vídeos ensinando a aplicar os frameworks das JOIAS em plataformas como o Miro.
Os relatos ao final do processo indicam que, mesmo que a tendência natural seja focar no “resultado” (cocriação de estratégias de impacto), conseguimos ampliar a compreensão dos participantes de que a qualidade do processo (“como” fazemos as coisas) é tão importante quanto o “o que” fazemos.
Assim, a liderança facilitadora é o antídoto à crise de curadoria e de atitude que temos visto ultimamente quando o assunto é impacto: mais do que heróis e heroínas de causas específicas, conselhos tokenizados com zero engajamento prático nas agendas de impacto que dizem defender, e consultorias apresentando métodos autorias fechados que resolvem problemas complexos 5 dias.
Queremos germinar uma comunidade de prática de agentes de mudança que com autonomia, sem egolatria e que se apoiem nesse processo contínuo de aprendizagem e aperfeiçoamento (de si, do outro e do ecossistema)
Como síntese da entrega de valor multidimensional que fizemos para cada vocação, veja a seguir como atendemos às necessidades de cada uma delas:
FOMENTADOR/A: Apresentamos inúmeros ecossistemas e instituições de fomento de impacto para além do Sistema B, que os ajuda a ter uma visão mais ampla do segmento de impacto. Além de ampliar as perspectivas, buscamos incentivá-los a reconhecer os ecossistemas dos quais já fazem parte para que possam articular relações.
Conseguir mapear melhores práticas de fomento e governança com os negócios atendidos e maior conhecimento sobre o BIA pode ser uma excelente bússola de investimento para qualificá-los, mediante o modelo de negócio de impacto e boas práticas de responsabilidade socioambiental corporativa.
CONECTOR/A DE REDE: Além do olhar ecossistêmico citado anteriormente, a pluralidade de participantes de vários estados do país ampliaram a abrangência de suas redes e uma melhor perspetiva de como eles podem conectar e articular novos parceiros e estrategistas de impacto a seus territórios e agendas de origem.
Cada parte envolvida no processo possui diferentes perspectivas, repertórios e múltiplas inteligências a serem aportadas.
PROFESSOR/A E PALESTRANTES: Receberam uma quantidade considerável de casos, inspirações e boas práticas com Empresas B e líderes B, além de adquirir mais conhecimento sobre a atuação do Sistema B e seus programas de mensuração de impacto.
Excelentes insumos e que facilitam a difusão de novos conteúdos em diferentes níveis de profundidade e especificidade para diferentes públicos interessados.
ESTRATEGISTA DE IMPACTO:
Após o compartilhamento dos aprendizados do Toolkit de Facilitação Digital Decah damos mais um exemplo na disseminação de práticas e possibilidades de geração de impacto através da abertura radical de nossos “segredos empresariais”. Isso faz parte de algo importante para nós, continuar a prática de valor compartilhado que é parte da nossa cultura empresarial.
Abrimos em primeira mão nossa mais nova solução metodológica para que os Multiplicadores B da turma de 2021 possam ser os primeiros 100 beta testers das JOIAS, ampliando seu repertório e ferramental para exploração do universo de conteúdos relacionados ao BIA e suas possibilidades de cocriação estratégias de impacto, além de nos ajudarem a aprimorar constantemente a jornada e seus artefatos de investigação.
EM TRANSIÇÃO:
E quem não está? Não é mesmo ?
Em um momento de constante e rápidas mudanças sociais, profissionais e pessoais intensificadas com a intensidade do período da Pandemia, vários de nós nos vemos refletindo, construindo e saltando na direção de novas possibilidades de futuros desejáveis.
O somatório de diferentes visões de mundo e o convite a aprender na prática, serve como plataforma de construção de novos entendimentos e ações para materializar essas intenções de geração de impacto.
Cada tentativa de geração de impacto importa e essa prática como caminho de aperfeiçoamento individual é um dos melhores laboratórios de desenvolvimento de pessoal, de equipes e de culturas organizacionais.
A ética regenerativa é um critério que nos permite tomar decisões perante dilemas e selecionar o que nos permite viver dignamente.
Ser um Multiplicador B não é uma posição, não é um badge ou título, algo que se conquista, mas sim, uma direção. É ter a atitude de um agente de mudança, na busca por coerência pessoal e profissional, por meio de uma jornada de desenvolvimento contínua no universo de impacto e responsabilidade socioambiental corporativa.” (Depoimento de um participante da turma de 2021)
Tem interesse nas próximas turmas ? https://bit.ly/QueroSerMultiplicadorB
SPOILERS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
No próximo artigo dessa série, vamos detalhar: A) o desenvolvimento das JOIAS — Jornadas de Impacto e Aprimoramento Socioambiental; B) sua aplicação na jornada de Recertificação da Clearsale (a primeira Empresa B brasileira Certificada a abrir capital); C) os desdobramentos de seu desenvolvimento/aprimoramento com a aplicabilidade em outros assessments e certificações de impacto; D) as parcerias com plataformas como Strateegia e Miro como amadurecimento de nossa proposta de valor; e o E) registro internacional da metodologia como estratégia de internacionalização da Decah.
E principalmente, como vamos utilizar as JOIAS no nosso processo de recertificação, pois aplicar as metodologias e boas práticas que incentivamos para nossos clientes e parceiros é o pacote básico na busca por coerência.
Seguimos…